terça-feira, 4 de maio de 2010

Parou.

Niguém sabe ao certo em que momento e por qual motivo.
Mas todos sabem muito bem que ela parou.
No meio do caminho, como um trem que subitamente falha.
E estaciona no meio do caminho.
Não deixando que as pessoas vão nem venham.
Atrapalhando o dia-a-dia de todos.


Parou.
Por que?

Parou para esperar aquele que não vem?
Parou para olhar o movimento ao redor?
Parou para frear o rumo lógico da vida?


Parou porque cansou?
Parou porque desistiu?

Não!

Parou pura e simplesmente para alucinar aqueles que a observavam.
Parou porque sabia que todos a olhariam.
Parou para que aqueles que a vissem refletissem.
Parou para que os outros parassem tambem.


Parou porque parar faz bem.
Já que depois da noite vem o dia;
E depois de um fim sempre há um recomeço.

Parou porque parar é sempre bom...

...desde que não seja o fim!


;)

domingo, 2 de maio de 2010

José, para onde?

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio
e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Carlos Drummond de Andrade