sábado, 30 de julho de 2011

Papercut


Você é este pequeno corte de papel no meu dedo indicador direito.
Ninguém pode ver, graças a seu tamanho reduzido.
Mas eu sinto a todo instante a sua presença.
Vocês não podem nem imaginar o quanto ele me incomoda.
Este corte me atormenta em cada tarefa boba que faço.
Ao abrir a porta, pegar no garfo, ler um livro, tomar banho.
Você está comigo em absolutamente todos os instantes, ainda que não saiba disso.

E a cicatrização parece não se concluir nunca.
Aparentemente a sua pequenez fez com que meu corpo esquecesse de te curar.
E, pensando bem, não sei se desejo que isso aconteça.
Pequeno, mas maior que tudo.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Corpo e coração.


Você pode tocar o corpo,
E não chegar nem perto do coração.

Assim como

Você pode ter levado meu coração,
Ainda que nunca tenhamos nos tocado...




quarta-feira, 27 de julho de 2011

Florbela Espanca II

Acho que estes são meus favoritos!



Amar!

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz foi pra cantar!

E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...



A nossa casa

A nossa casa, Amor, a nossa casa!
Onde está ela, Amor, que não a vejo?
Na minha doida fantasia em brasa
Constrói-a, num instante, o meu desejo!

Onde está ela, Amor, a nossa casa,
O bem que neste mundo mais invejo?
O brando ninho aonde nosso beijo
Será mais puro e doce que uma asa?

Sonho... que eu e tu, dois pobrezinhos,
Andamos de mãos dadas, nos caminhos
Duma terra de rosas, num jardim,

Num país de ilusão que nunca vi...
E que eu moro - tão bom - dentro de ti
E tu, ó meu Amor, dentro de mim...



A uma rapariga

Abre os olhos e encara a vida! A sina
Tem que cumprir-se! Alarga os horizontes!
Por sobre lamaçais alteia pontes
Com tuas mãos preciosas de menina.

Nessa estrada da vida que fascina
Caminha sempre em frente, além dos montes!
Morde os frutos a rir! Bebe nas fontes!
Beija aqueles que a sorte te destina!

Trata por tu a mais longínqua estrela,
Escava com as mãos a própria cova
E depois, a sorrir, deita-te nela!

Que as mãos da terra façam, com amor,
Da graça do teu corpo, esguia e nova,
Surgir à luz a haste duma flor!...



Desdenhando

Irrita-me esse olhar tão de desdém,
Esse teu ar de superioridade,
Altivo para mim, como de quem
Olha de longe o mundo e a vaidade.

Sei que me tens amor e, na verdade,
De que serve fingir, se quem o tem
Nunca pode escondê-lo de ninguém;
E toda a gente o tem na nossa idade!

"Amor" - linda palavra , tão suave!
É riso de criança, trilo d'ave,
Renda tecida à noite plo luar!

Eu digo-a tantas vezes com fervor,
Que nem sei como ela, meu Amor,
Te custe uma só vez a murmurar!...



terça-feira, 26 de julho de 2011

Florbela Espanca

Uma maratona dos poemas dela
Porque essa mulher era demais.


"Tens um coração de pedra
Dentro dum peito de lama
Pois nem sabes distinguir
Quem te odeia ou quem te ama."




"Nem o perfume dos cravos,
Nem a cor das violetas,
Nem o brilho das estrelas,
Nem o sonhar dos poetas,

Pode igualar a beleza
Da primorosa flor,
Que abre na tua boca
O teu riso encantador."




"Os olhos são indiscretos;
Revelam tudo que sentem,
Podem mentir os teus lábios,
Os olhos, esses, não mentem."




Frieza
"Os teus olhos são frios como as espadas,
E claros como os trágicos punhais;
Têm brilhos cortantes de metais
E fulgores de lâminas geladas.

Vejo neles imagens retratadas
De abandonos cruéis e desleais,
Fantásticos desejos irreais,
E todo o oiro e o sol das madrugadas!

Mas não te invejo, Amor, essa indiferença,
Que viver neste mundo sem amar
É pior que ser cego de nascença!

Tu invejas a dor que vive em mim!
E quanta vez dirás a soluçar:
"Ah! Quem me dera, Irmã, amar assim!...""




"Abrir os olhos, procurar a luz,
De coração erguido ao alto, em chama,
Que tudo neste mundo se reduz
A ver os astros cintilar na lama!

Amar o sol da glória e a voz da fama
Que em clamorosos gritos se traduz!
Com misericórdia, amar quem não nos ama,
E deixar que nos preguem numa cruz!

Sobre um sonho desfeito erguer a torre
Doutro sonho mais alto e, se esse morre,
Mais outro e outro ainda, toda a vida!

Que importa que nos vençam desenganos,
Se pudermos contar os nossos anos
Assim como degraus duma subida?"




Amanhã tem mais!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Erro

Eu errei.
Fiz merda.
Me fodi.

Venho errando há muito tempo
e quando tenho chances de acertar as jogo fora.

Erro desde o dia que terminei meu namoro de quase 3 anos
porque queria curtir.

Errei ao trocar o filminho embaixo das cobertas
pelas baladas às sextas.

Errei.

Errei ao amar mais que tudo
uma pessoa que não me amou de volta.

Errei ao desperdiçar a chance de estar com alguém
que me amava de verdade.

Erro ao pensar
que as coisas estão assim
porque assim deveriam estar.

Erro.
Erro.
Erro.

Fiz tudo errado?

É isso que querem que eu pense...

Mas aí o erro já não é meu!


Não deixe que errem por você.
Embrulhe pra presente e mande de volta os erros inventados.