segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Nem sob tortura.

Não.

Em nenhuma hipótese.

Eu não vou te contar nada do que estou pensando.

Não interessa a você nem a ninguém mais além de mim.

Quem será capaz de arrancar da minha garganta o que está no pensamento?

O máximo que você pode conseguir é concluir algo ao me observar.

Palavras não serão mais ditas.

Já disse tudo que deveria ser dito.

De nada adiantou.



Pois a partir de agora sigo em silêncio!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Sobre a necessidade do sempre, ou a capacidade de arruinar tudo.



Ainda nem inaugurou, mas já é 24 horas.
Ainda nem começou, mas já é pra sempre.
Ainda nem nasceu, mas já tem nome.
Ainda nem aconteceu, mas já tem padrinhos.

Ainda nem acabou, mas já é definitivo.





Viva a vida mais leve, sem essa recorrente necessidade do 'sempre'.
Que seja eterno enquanto dure.
E ponto.
,)

domingo, 7 de novembro de 2010

Dentro


Ela olhou pra direita e viu um imenso branco. Não era nenhuma luz ofuscando seus olhos, era a alva paisagem que ela podia ver.
Estremeceu. Não havia ninguém até onde a vista pudesse alcançar.
Nem pessoas, nem casas, nem ruas, nem fios.
Não havia nada.
Ou melhor, havia o nada.
Decidiu observar o outro lado, dizem que sempre há um lado bom das coisas, então ela decidiu apostar.
Embora estivesse com medo, num ímpeto de coragem virou-se para a esquerda.

E eis que ela avista o... nada!
Toda aquela vasta superfície cintilante, refletindo o sol forte que brilhava no céu.
Ah sim, o sol. Sabia que ainda teria algo, impossível ter o nada como companhia.
Aliviou o desespero por um instante, com o sol a vida estava garantida.
Sentou-se e permitiu-se contemplar por alguns instantes aquela vista estranha.
Linda e estranha.
Imagine-se no meio de um infinito branco, com o sol como única companhia.
Aparentemente querem que você reflita.
Olhe pra dentro de você mesmo, já que não há nada lá fora para ser mais interessante e desviar a atenção.

Olhar pra dentro de nós mesmos...

É necessário mais que o infinito para (re)conhecer tudo que há alí.
Talvez nem todo o tempo do mundo permita essa façanha.

Mas ainda que pareça tão lindo esse momento de descoberta e reflexão, eu daria tudo pra não tê-lo.

Amigos já me diriam... eu tenho mania de querer abraçar o mundo.
Grande ilusão a minha, pensar que isso pode acontecer.
Não dou conta nem do pouco que tenho, que dirá administrar todas as possibilidades.
Provavelmente a insatisfação seria bem maior.
Afinal, quanto mais se tem mais se quer.

E quanto mais eu falo menos consigo me entender.
Melhor ficar por aqui, antes que o ato de escrever também me enjoe e não me reste mais nada.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Diálogo

- E você, por que desvia o olhar?

(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarra-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)



- Ah. Porque eu sou tímida.

Rita Apoena